quinta-feira, abril 30

fábula dos tempos modernos

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Conta o conto, ponto por ponto, que um belo dia três porquinhos resolvem sair da casa da mãe e construir cada um a sua também. Cícero, para não se esforçar muito, fez a sua casa de palhinha e por lá ficou a brincar e a tocar a flautinha. Heitor, o espertinho, fez a sua casa em pinho, por lá ficou a cantar que queria ser dançarino e tocar violino. Já o Prático, que é muito catedrático, não ficou a descansar pois só sabe trabalhar, disse que não é nenhum tolo e fez a sua casa com tijolo. E vos digo e redigo que do resto da história não sabem da missa a metade, querem saber ou deixo para mais tarde? Sem desconto, então eu conto: Às oito em ponto, horas do jantar que ele não é tonto, o Lobo que é Mau apareceu e escolheu: vou comer os três porquinhos com farinha de pau! Derrubou todas as casinhas de uma só vez, nenhuma resistiu nem a que o Prático fez, tadinhos dos porquinhos ficaram geladinhos, ao relento, à chuva e ao vento. Para espanto de toda a gente, o lobo ficou medricas e, subitamente, pisgou-se só porque os porquinhos tinham tosse!


(Cartoon do Rodrigo)


quarta-feira, abril 29

reposte 3 [tempo]

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"Bom dia...
Sete e quinze da manhã, aqui nas manhãs da três...."





Como adepto do snoozing, ou seja, do "só mais 10 minutos", já o rádio-despertador tenta que eu acorde, quando finalmente à terceira tentativa consegue tirar-me da cama. Aí o escravo do relógio acelera o ritmo e vai trabalhar. Treino matinal de passo acelerado até ao Metro, aí paro e perco-me em pensamentos. De novo passo acelerado até entrar no gabinete. Manhãs rotineiras, sons, imagens e caras sempre iguais. Enquanto isso muitos dizem, o tempo passa e estamos a ficar mais velhos.

A maioria das pessoas vive constantemente preocupada com o aspecto negativo do tempo. Isso acontece porque os nossos pensamentos estão frequentemente a pensar primeiro em algo negativo sobre nós mesmos para depois surgir algo positivo (quando surge). Assim como vozes internas que ouvimos e nos criticam, indicando supostos "defeitos". Assim se inicia a busca constante da perfeição. Corpo perfeito, ou inteligente, ou rico, ou algo que seja indicado para sermos aceites e se aceitar. Será que não basta sermos nós mesmos?!

Sim, estamos envelhecendo, e daí? A culpa das rugas não é só do tempo. Essas são as marcas de como vivemos as nossas vidas. Dos nervosismos e stress muitas vezes desnecessários, das tristezas internas, das faltas de ânimo, reclamações e insatisfações com tudo e com todos. Sem falar nos sorrisos amarelos por fingirmos ser felizes quando às vezes estamos a doer por dentro. Surgirão sempre problemas e aí eu digo que o tempo é algo bom, porque o tempo é a maior solução para muitos deles. Muitas vezes ele resolve tudo. O tempo ensina e mostra as verdades. Quando paramos com toda a correria é que as ideias ficam no lugar. Por isso, não percamos o nosso tempo pensando no tempo. Apenas vivamos o agora.

E agora perguntam vocês: Porque foi ele desenterrar este texto? E eu respondo, porque me apeteceu, ora essa. Raio de mau tempo que nunca mais passa!


terça-feira, abril 28

a gripe infectou a internet

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Já todos sabemos o que é a gripe. Nestes ultimos dias temos sido largamente informados que existe um novo surto viral, a gripe suína, que teve origem na estirpe animal do vírus H1N1 e contém DNA típico de vírus aviários, suínos e humanos, incluindo elementos dos vírus suínos europeus e asiáticos. “Trata-se claramente de um vírus animal que se transmitiu ao Homem, e isso tem um potencial pandémico porque está a infectar pessoas muito rapidamente” alertou assim a Organização Mundial de Saúde (OMS) para o perigo que o vírus da gripe suína pode provocar à saúde mundial. Pergunto: será alarmante que a OMS use a palavra “pandemia”? Uma pandemia é quando uma doença infecciosa atinge proporções enormes, podendo-se espalhar por um ou mais continentes, causando inúmeras mortes. Este surto já provocou a morte de dezenas de pessoas no México, e o número cresce a cada dia, para além de se estar a espalhar a outros países. Esta anunciada pandemia pode ser a primeira grande doença que ameace o mundo a uma escala global, na era da banda larga, uma vez que clandestinamente deu o salto para o grande difusor de notícias, os Estados Unidos.

O anterior surto de gripe à escala mundial, a gripe aviária, ocorreu na Ásia e talvez fosse mais preocupante uma vez que o vírus H5N1 se fez de hospedeiro num corpo de penas com asas que viaja livremente e sem controle nas fronteiras aeroportuárias! Podemos estar mais uma vez perante uma histeria passageira, mas, pelo sim e pelo não, recomenda-se que se acrescentem mais algumas precauções às que habitualmente se tem com qualquer tipo de gripe. È obvio e compreensível que ninguém queira viajar para adoecer e é natural que se desmarquem viagens para as zonas de risco, mas umas simples precauções diárias previnem possíveis contágios:

Principalmente se estiver em ambientes fechados, quando tiver que tossir ou espirrar, cubra a boca e o nariz para reduzir a propagação de germes e não se esqueça de lavar as mãos depois; Sempre que puder proteja-se da tosse e espirros de outras pessoas; Quando for lavar as mãos, lave-as com sabão e água corrente quente ou utilize toalhetes de limpeza higiénica; Vigie a sua saúde e se verificar alguns sintomas procure os serviços médicos; Se vai viajar informe-se convenientemente; Se ainda não se vacinou, fale com o seu médico assistente.

Contra a paranóia, o melhor remédio é a informação (vejam o vídeo até ao fim).




E como não podia deixar de ser, nem falta a habitual teoria da conspiração à boa moda americana:

"Neste momento, a OMS não tem evidências de que o vírus surgiu de um ataque bioterrorista destinado a matar o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. Porém, disse a organização, continuam-se a estudar todas as possibilidades. A declaração do especialista foi uma resposta a uma pergunta relacionada à recente viagem que Obama fez ao México. Na visita, o presidente americano reuniu-se com um arqueólogo de renome que dois dias depois morreu com sintomas similares aos da gripe."


sexta-feira, abril 24

a senhora professora

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Ontem eu era apenas um rapazinho, que nos meus oito verdes anos de idade caminhava livremente por ruas cinzentas e silenciosas, numa manhã primaveril, encantado com o brilho clareado dos primeiros raios de sol. Lembro que se sentia alguma coisa no ar, e lembro-me porque aquele dia também me marcou muito, mas só mais tarde percebi porquê. Eu gostava da escola. Gostava de lá estar. Aprendia a ler, a escrever, a somar números e colorir desenhos em livros de páginas amareladas. Logo às primeiras contas e ditados da lição, a senhora professora colocou-me com outros colegas a tomar conta da classe e saiu da sala. Voltou mais tarde com um nervosismo indisfarçável nas rugas do rosto e a voz apressada: “meninos podem sair para o recreio”! Lá fora ficava um dos lugares mágicos que o espírito da minha infância agora me trás de volta. Ali, nem tudo parecia tão alto e difícil de alcançar. Era um recinto de terra batida onde brincávamos às corridas e às apanhadas, numa inocente meninice. Entre pontapés a uma bola rasgada, corridas desenfreadas e uma ou outra queda que nos sujava as batas, um muro separava-nos de outro mundo, de outro recreio. Os meninos brincavam ali e as meninas do outro lado! Nessa idade o mundo era muito maior, muito mais haveria para conhecer e tanto para aprender. Nem imaginava que heróis marchavam sobre a capital e não ouvia as vozes que eram libertadas das mordaças. Nessa idade eu prestava mais atenção à caixa de brinquedos e à minha guitarra de plástico, que ganhara no Natal, do que a outras brincadeiras mais sérias. O intervalo no recreio já ia bastante demorado quando a senhora professora, com uma visível expressão de medo, chamou todos os meninos para a sala e escapuliu-se porta fora com um desavergonhado adeus, minimamente preocupa se teríamos alguém que nos fosse buscar. Eu não compreendia nada do que se estava a passar e ninguém me explicava! Imagino que nem os adultos sabiam o que se passava e o que deveriam fazer. Na rua, todos corriam de um lado para o outro, apressados, assustados e no entanto notava-se que havia ali um certo brilho diferente no olhar. Uma canção conhecida de todos tocava nas suas cabeças, murmuravam-se poesias nas gargantas e todas elas rimavam com o mesmo sentimento, com a liberdade. E depois do "adeus" da velha senhora voltei à mesma escola, ao mesmo mundo, mas para um amanhã diferente, para um sorriso simpático e mais colorido da nova senhora professora.

"A liberdade é o espaço que a felicidade precisa"

Um bom fim-de-semana. Aceito palpites na fotografia. :)

Azeituna - E Depois do Adeus

quinta-feira, abril 23

uma hipótese

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Fez ontem um ano que aqui publiquei um texto sobre a importância do Dia da Terra e como poderíamos aproveitar essa deixa para escrevermos ou pelo menos pensarmos um bocadinho sobre ela. Todos os dias são boas ocasiões para reflectirmos sobre a saúde do nosso planeta e como deveríamos estar consideravelmente mais preocupados porque ele está doente, muito doente. Este ser vivo tem-nos provido de tudo o que é necessário para o nosso estilo de vida, e mesmo assim, não satisfeitos, alguns alimentam o sonho de encontrar outros planetas para explorar! Como até hoje nenhum foi encontrado, deveríamos isso sim preservar o que temos e que nele nos permite viver. Precisamos de reaprender a viver como seres humanos e racionais.

Ontem li o Carlos no Rochedo que lançava o desafio de pensarmos se o que estamos a fazer em defesa do futuro dos nossos filhos é o mais correcto? Infelizmente muitos são os que não querem saber do mal que se está a fazer ao planeta, nem que a herança deixada às gerações seguintes não tem rumo nem futuro
. Continuarão a haver pessoas que vivem para a ganância, sem pensarem em mais nada do que tirar tudo para proveito próprio, sem o menor pudor. Mais hipócritas, líderes de países com riquezas naturais incalculáveis, irão continuar a governar sem olharem para o seu povo, que continuará a sofrer com a fome, a sede, e a viver em condições sub-humanas. Pelo menos ainda restam algumas pessoas, que procuram reverter a situação e com a sua voz e acções consciencializam outros, no sentido de se alterarem políticas e comportamentos.

Ao desafio proposto eu respondo que é na educação que poderemos ter a ferramenta necessária para poder alterar este rumo. Não basta que se fale somente da necessidade de se deixar um planeta melhor para os nossos filhos. A minha consciência responsabiliza-me em deixar um filho melhor para o nosso planeta.



quarta-feira, abril 22

voltem amanhã, ó faxabôre

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Porque sim! Porque com a barriga cheia de uma parrilhada de mariscos que nunca mais acabava, depois de umas bejecas fresquinhas e um brinde espumante de alegria, que mais poderia eu fazer do que respeitar a vontade, pronto!


terça-feira, abril 21

nanda

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Que despertam sentimentos.
Que a todos prestam uma atenção e carinho desmedidos.
Que por acções e palavras irradiam generosidade e sensibilidade.
Do coração e da inteligência nascem obras de arte e a tudo dão valor, com amor.
Somos uns afortunados por ter na vida uma pessoa assim, uma mulher de uma interior e rara beleza, flor de suaves e delicadas cores, das mais perfumadas, que no jardim da vida florescem, todos os dias.
Desta janela intemporal te enviamos um grande beijinho de parabéns, das tuas absolutamente ternas setenta primaveras, para que te sintas intensamente feliz e rodeada de carinhos dos teus,
Eduardo, Paulo, Tó, Carla, Susana, Rafael, Andreia e David.




Envio também à nossa querida vizinha Gi as flores que ela quiser pelo seu aniversário, faz 2 aninhos :). Parabéns Gi!

segunda-feira, abril 20

coisas da vida

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Por mais úteis que tenham sido para mim, nunca fui de me apegar aos objectos. Mesmo aqueles que me trazem boas lembranças. Depois do prazo de validade há muito se expirar, por ficarem obsoletos ou não servirem mais, ou porque simplesmente avariam, olho para aquele mono empoeirado, deixado a um canto, e penso: "terá isto alguma utilidade para mim?" No caso de uma resposta negativa, livro-me daquilo sem dramas, doando a outra pessoa se entender haver ali ainda alguma utilidade, ou então envio para a reciclagem, para o lixo.

Existem, no entanto, pessoas que não são capazes de se desfazerem das suas coisas de uma forma tão fria e despachada. Não conseguem transformar em lixo determinados objectos que, para eles, ainda possuem algum valor sentimental. Nem todos têm o privilégio de morar em casas espaçosas e de se poderem dar ao luxo de acumular tudo o que vão adquirindo ao longo da vida. Alguns menos afortunados, se pudessem, usariam a arrecadação da cave do prédio para criarem uma espécie de museu, onde depositariam todos os objectos e expunham a sua colecção de quinquilharias velhas e inúteis, que remetem à lembrança. E poderiam até lucrar com isso se porventura abrissem as portas a visitantes saudosos por aquilo que também fez parte das vidas deles:

Visitante: - Deve ter sido difícil separar-se de um telemóvel assim tão… tão giro?
Nostálgico: - Pois é, respondo, tentando conter os soluços. Sabe que tive as minhas primeiras conversas portáteis nele, até que um dia, outro de outra geração bem mais leve e magrinha veio colorir os meus dias. Enxugo as lágrimas enquanto acaricio o actual.
Visitante: - É mesmo muito triste… E o que tem guardado nessa caixa?
Nostálgico: - Umas botas que deixaram de me servir. Não imagina como eu adorava calçar estas botas. Ficavam perfeitas nos meus pés. E veja como estão novas, digo enquanto solto um suspiro!
Visitante: - E o que é que tem escrito na caixa?
Nostálgico: - Aqui jazem as minhas queridas texanas 1984–1986.
Visitante: - Tem mais coisas suas por aqui?
Nostálgico: - Ah sim, está ali uma bela máquina. Um incrível computador IBM486, com os seus 8MB de RAM, 125MB de disco, mais o monitor VGA, uma Playstation 1 que o meu filho deixou, e outras coisas da vida.

Posto isto, acho que não tenho razões em me preocupar se reservar espaço na minha arrecadação para um museu desses. Afinal, para mim, se algum equipamento deixou de funcionar e não teve reparação, vai direitinho para a arrecadação... digo reciclagem. Bem, menos aquele leitor de cassetes de vídeo avariado, que está no armário do meu quarto. Sabem como é, eu vi muitos filmes ali em boa companhia, e ainda tenho as cassetes VHS, guardadas algures e preservadas por uma fina película de pó!




quinta-feira, abril 16

de cristal

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É inevitável. Ano após ano, enquanto viver, chegará o dia em que se incrementa mais um ano aos que já ficaram para trás. Sinto ser prematuro dizer que já cheguei a uma idadezinha respeitável para se fazer uma espécie de retrospectiva.
Será? Não sei! Mesmo assim a farei...






Acordado já sonhei, a meio da noite e com medo do escuro, receei. Já me cortei na faca da cozinha, já subi às árvores e aos telhados, tive medo de alturas, já fui medricas mas arrisquei. Já nadei para a outra margem e à bola joguei, já fiz balões de chiclete e a minha cara sujei, e se gostei. Já me escondi debaixo da cama e esqueci os pés de fora, quis ser guitarrista, astronauta e rei. Já tentei roubar beijos, e se gostaram dos que dei? Já não sei. Já confundi sentimentos e me enganei. Já gritei de felicidade, até flores roubei. Partilhei e tirei, sim, já me confessei. Já me apaixonei. Assentei. Já chorei de alegria por dores de barriga e esperei. Assisti ao nascer do sol, é deslumbrante, eu sei! Já ouvi música e cantei, mal mas cantei, e o meu filho embalei. Já descobri e perdi, corri, ouvi, conversei com o espelho e acreditei. Já fiquei sozinho no meio de mil pessoas sentindo a falta de uma, já falei que me apaixonei? Já vi estrelas. Já saí para pedalar sem rumo, sem nada na cabeça, e até hoje sinto que não voltei. Já raspei o fundo do tacho, andei à chuva e me molhei. Já pisei merda no passeio. Quem é que nunca pisou? Ok! Já me descuidei e queimei, ri até soluçar e mal disposto acordei. Já descobri que a vida é mesmo isso, um ir e vir sem razão de tantas coisas feitas, momentos fotografados pelas lentes da emoção, guardados num frágil baú que é o coração. São quinze de crescimento, de sincero sentimento, mas ao certo são quarenta e três, bem sei. Fui muito chato? Calculei!


terça-feira, abril 14

doces lembranças

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As lembranças não se limitam ao frenesim dos preparativos para a viagem, à paragem habitual que fazíamos a meio caminho, no reencontro com a velha estrada nacional serpenteada por nauseantes yésses, que a minha mãe nos confundia de "terem sido desenhados por um tal engenheiro inglês". Não basta o som explosivo de foguetes, compassado pelo eco que os devolvia da outra banda do rio. As lembranças levam-me à velha casa de pedra, onde o soalho encerado rangia sob os nossos passos e as louças tilintavam no interior do armário da sala. Levam-me ao pequeno buraco redondo, da madeira carcomida do quarto de onde podia espreitar o lagar da loja. Levam-me a uns sapatos finos, brilhantemente polidos de graxa preta, que secavam na soleira da porta. Trazem-me os raios de sol e a recordação infalível à interpelação da avó Madalena, que por nós esperava à porta da cozinha: “já lavaste as mãos?”. As memórias abrem-me uma pequena gaveta, da cómoda do quarto onde um relógio de bolso, prateado e virtuoso, ritmava um ténue tic-tac. Era aos domingos que a corrente metálica adornava e balouçava do bolso proeminente da jaqueta negra. E num sorriso fugaz, a cachimónia traz-me de volta uma prateleira da cozinha, que lá bem no alto segurava um copo de vidro onde a dentadura bicarbonada do meu avô repousava à noite. Até a afiada navalha de barbear, que ele manuseava com mestria em frente à sua janela, me surgiu num ritual intemporal. A mente leva-me a calcular o local exacto onde no pátio da casa estaria o tanque de pedra que, cheio com água do poço, passou a ser um aquário para os peixes dourados trazidos do rio.
A minha memória mais forte, a que o nariz capta. É do aroma trazido no ar e que me aflora num sentimento de nostalgia. É um cheiro bom e inspirador, de um tempo maravilhoso que jamais se apagará. Das doces lembranças de um Domingo na aldeia. Do arroz de forno lentamente cozido num alguidar de barro preto, onde pende a suculenta carne de pasto sustentada em pau de loureiro, e que nos grãos pinga dando-lhes aquele sabor da terra, característico da lenha trazida do mato. Tudo artesanal, tão natural como os temperos e ensinamentos herdados pelos meus tios.
Há cheiros que permanecem inesquecíveis, mas o que me leva de volta ao passado é a divisão da casa onde permanece a pedra. A frescura da loja, com o seu lagar e constante grau de humidade, usada como adega, onde se guardam as pipas, as batatas e alguns objectos em desuso, mas que foram úteis nas mãos sábias dos meus avós, que viveram uma vida dura, lenta e repleta de simplicidade, e que pelo menos uma vez pelo Verão, nas férias grandes, eu e o irmão desassossegavam.

Lembra-me da minha mãe, e que “já cheira a Castelo!”


segunda-feira, abril 13

é urgente! umpf...

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Há dias em que só me apetecia poder controlar o tempo, poder manipulá-lo a meu belo prazer, atrasá-lo quando bem me apetecesse, pará-lo assim que desse vontade, sem ter que dar explicações a ninguém. Ontem foi um desses dias. Queria descrevê-lo mas a nossa permanente corrida com o tempo é incontornável e um pequeno segundo de deslumbramento do ponteiro da memória faz lembrar tanta coisa... e agora não tenho tempo!

O gabinete amanheceu a destempo, com muitos papéis para reciclar... para arquivar. Tenho de dar corda aos neurónios se quero ter tudo pronto a tempo. Alguém tem por aí uns minutinhos que possa dispensar?
Tempo, precisa-se!

Adenda: Dispensei uns minutos da minha hora de almoço para finalmente aprender como se publica uma imagem no modo "espião surfista"(a imagem relaxante veio daqui).

sábado, abril 11

desmistificando o coelho de páscoa

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quinta-feira, abril 9

cuidado com elas

Partilhar O motorista do autocarro de uma excursão sénior sentiu uma das velhinhas bater-lhe no ombro, oferecendo-lhe algumas amêndoas torradas.
- Ah, obrigado! disse ele, enquanto segurava as amêndoas na palma da mão.
Passados uns dez minutos, vem de novo a velhinha que levemente lhe toca no ombro e lhe oferece mais um punhado de amêndoas.
- Obrigado, minha senhora! agradeceu outra vez.
Para encurtar a história, a cena repetiu-se umas três ou quatro vezes. E três ou quatro vezes o motorista comeu as amêndoas. A certa altura, intrigado e já farto de tanta amêndoa, perguntou à atenciosa velhinha:
- Mas porquê a senhora me oferece tanta amêndoa? Até gosto bastante sabe, mas sei também que trouxeram outras coisas boas! Vocês não gostam das amêndoas, é?
- Ah, não é isso meu filho, é que algumas de nós não tem dentes e por isso não conseguem mastigá-las...
- Então porque compraram tantos sacos de amêndoas? perguntou o motorista.
E a velhinha respondeu:
- É que nós adoramos o chocolatinho que têm à volta...


Blogue encerrado para contra-ordenações, coimas recheadas ou amêndoas!

Uma Páscoa muito feliz, ó faxabôre!

quarta-feira, abril 8

chef superstar

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Quem me conhece sabe que me safo na cozinha, fruto de alguma curiosidade e da arte culinária da minha querida mamã, uma chefa da cozinha por excelência. E não só me consigo desenrascar com os tachos, para consumo interno, como também gosto de assistir a um bom programa televisivo de receitas, especialmente se for do Jamie Oliver. Este jovem chef britânico, um dos maiores fenómenos da culinária internacional, conquistou telespectadores em todo o mundo, pela sua simpatia, pratos simples de fazer, preocupação e dedicação com os hábitos alimentares das pessoas, o seu empenho na melhoria das cantinas das escolas inglesas, a luta em que se empenhou contra a industria alimentar do “fast food”, o alerta para os efeitos da má alimentação na saúde das pessoas, para além de vários programas televisivos, livros editados, DVD’s, uma fundação de restaurantes escola para jovens carentes (o projecto Fifteen) e uma cadeia de restaurantes. Com ele, se o azeite for virgem, a pasta for fresca, a carne for de animais de pasto, o peixe vier “vivinho” do mar, sempre o queijo e as ervas aromáticas acabadas de colher, então já temos jantar. Identifico-me muito com aquele à vontade, com a maneira como ele desmistifica os alimentos, aquela paixão que tem pela comida e como demonstra que o acto de cozinhar é a coisa mais simples do mundo.

Na semana passada, os líderes mundiais do Gê20 e restantes convidados do Primeiro-Ministro britânico deliciaram-se num simples jantar oficial, escolhido e preparado pelo popular chef “superstar” Jamie Oliver. A cimeira do ano passado, realizada no Japão, foi então muito criticada por incluir uma refeição composta por 19 pratos quando em discussão estava a crise alimentar mundial! Do menu sabe-se que a entrada incluía salmão e espargos ingleses, o prato principal seria borrego do País de Gales servido com pão, batatas novas e temperado com um molho de hortelã, apimentado com o poderoso alho selvagem que cresce um pouco por todas as florestas do país. Na cozinha a ajudá-lo esteve um grupo de aprendizes recém graduados dos seus restaurantes Fifteen. Do que não houve notícia foi se os donos das barrigas mais poderosas do mundo apreciaram o repasto ou tiveram azia. Imaginem só o poder que ele teve nas mãos naquela noite. E se ele decidia adicionar uma pitadinha extra de tempero apimentado no molho do prato principal, ou apresentava uma irresístivel sobremesa afrodisíaca?

Na madrugada da passada sexta-feira, Jamie Oliver foi pai de outra menina. A criança chama-se Petal Blossom Rainbow, é a terceira filha do casal que já têm duas filhas, Poppy Honey, de sete anos e Daisy Boo, de cinco.

Vejam só este joguinho electrónico que ele criou com algumas dicas culinárias!


terça-feira, abril 7

ferida

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Uma noite como tantas outras e a cidade que dorme, aqui e ali sobressaltada por gatos e pássaros num louco frenesim. Apesar de toda esta agitação, só se ouve o silêncio, um alarme proveniente do poderoso som do vento, como palavras que se sobrepõem umas às outras, ganhando velocidade e descontroladas inundam numa dimensão cada vez maior, cada vez mais grave. Por vezes há avisos subtis que permitem permanecer em alerta, ou reagir e fugir enquanto há tempo! De um momento para o outro um tremor aparece do nada, o chão parece falhar e balança debaixo dos pés como se tudo estivesse sobre um baloiço gigante. As paredes embalam-se perigosas e o tecto faz companhia ao movimento do chão. Qual monstro adormecido, subitamente acordado pelo bater de asas de uma borboleta, reage explosivamente e, sem apelo nem agravo, destrói violentamente tudo à sua volta. Os alicerces tremem, os sonhos são arrasados. São ruas desertas de pessoas e inundadas de uma multidão de destroços. A imprevisibilidade, a inevitabilidade, a morte. A dureza das consequências deixa-nos sem ar, como se nos atingisse em cheio com um murro no estômago. E o penoso tempo vai passando, sentindo e tentando ignorar as réplicas que, apesar de não terem a mesma intensidade, estremecem o temor mas não a esperança. A revolta da terra vai passar. Restará arrumar as palavras que se espalharam, que flutuam e balançam como se fossem as penas perdidas de uma almofada rasgada. Não se sabe o tempo que demorará a repousar a poeira da emoção sobre o chão de sofrimento. Fica um momento na vida, como se tudo tivesse acontecido, imaginário, abstracto. Desabada a serenidade, arrumada a um canto da vida, permanece à espera que a memória a solte e feche a ferida que se abriu no coração.


Katie Melua - I Cried For You


segunda-feira, abril 6

profissão de futuro!!!

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Se, em média, um semáforo mudar de cor a cada trinta segundos (30 no vermelho e outros 30 no verde), não será demasiado optimista imaginar que um pedinte facilmente conseguirá, a cada verde, pelo menos uma moedinha de 0,10 € e ao fim de uma hora auferirá 6 € (0,10 € x 60mim). Se ele marcar o ponto no mesmo cruzamento durante 8 horas por dia (das 7h às 10h, das 12h às 14h e das 17h às 20h), com descanso semanal ao Domingo, ao fim do mês terá facturado 1248 € (8h x 26dias x 6 €). Tudo isso na menor das hipóteses, pois acho até estar a ser demasiado modesto! Os 6 € por hora são uma quantia bastante razoável para quem assenta arraiais numa das principais entradas da cidade, nas horas de ponta. Quem dá 10 cêntimos, evidentemente tanto pode dar 20, 50 ou mesmo 1 €. E mesmo que só facture metade, ou seja 3 € por hora, ao fim do mês terá conseguido 624 € líquidos, o que é bem mais do que um salário mínimo nacional com a mesma carga horária! Sempre que consiga “sacar” uma moedinha de 1 € de um condutor mais benévolo, até se pode dar ao luxo de fazer um intervalo, tirar a cabeça do sol sob a sombra de uma árvore por mais 9 sinais verdes, sem ter nenhum chefe a moer-lhe o juízo por causa disso! É tudo rendimento, sem retenção na fonte, IRS, IVA, descontos para a caixa…

Se nesta época de crise todos os dias há falências, aumenta o desemprego e o desânimo, cada vez mais famílias sobrevivem com dificuldades de toda a ordem, a esmola é uma salvação e não uma vergonha!

Esta é apenas uma teoria irónica, uma ideia disparatada, mas acreditem que não está muito longe da realidade.

sexta-feira, abril 3

ode à preguiça

Partilhar Ah! Minha querida sexta-feira!
Como és bela quando chega a tua tarde
E logo mais outra alegria me invade
O meu amor volta para a minha beira.

Fugir ao encontro do sorriso da manhã
Compartilhar o passeio demorado na cama
Numa aventura de remelas e pijama
Sol ou chuva, não me importa o amanhã.

O tempo é livre para, enfim, brincar
Uma cerveja com amigos, sair a pedalar
Todo o cansaço se acaba de uma vez
Feliz e contente, contra-senso da embriaguez.

Eu quero que o trabalho não me queira
Eu vivo livre, mente, corpo e alma
Relaxa, respira, tem calma...
Não tarda é novamente segunda-feira.

Tenham um bom fim-de-semana, seus preguiçosos...
Aproveitem a música!


Musica Nuda "Fever"


quinta-feira, abril 2

for men

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Ainda com os olhos fechados, estica o braço e tacteia a mesinha de cabeceira, à procura do maldito despertador para retardá-lo. Todos os dias é a mesma luta para se levantar da cama e começar as rotinas. O rádio não desiste em entrar pelos seus ouvidos, insistindo em atordoar que já passam das sete da manhã. Como uma criança, espreguiça-se lentamente e boceja, adiando mais que possível o inevitável. Levanta-se sonolento e segue às apalpadelas pelas paredes até se deter diante do espelho, desfocado e estremunhado. Leva as mãos aos olhos, à cara inchada do sono, e vê-se desconfiado. Não havia como negar, naquele instante o seu reflexo era tudo menos agradável. Num movimento brusco abre a torneira e com a água fria desperta os sentidos. Acordado do seu devaneio matinal enfia-se sob o chuveiro que aquece. Depois segue-se a aventura. Um verdadeiro calvário, quase diário, que deveria encarar com toda a naturalidade. Com alguma paciência, prepara a superfície num momento de delicadeza e carinho para consigo mesmo. Pelas bochechas até ao pescoço, com muita suavidade no queixo e debaixo do nariz, com toda a calma e habilidade raspa a lâmina cortante, esticando bem a pele até ficar lisinha como o rabo de um bebé. Termina, lava a cara com água fria para fechar os poros e, delicadamente, passa um creme hidratante para acalmar o ardor, dando umas palmadinhas ao de leve até secar. Com um pedacinho de papel higiénico estanca o pequeno e indolor corte cutâneo que o sono descuidou. No final, com um ar de desdém, atira a gillette para o lixo com a total garantia de ser aquela a última vez que precisou dela. Daqui para a frente, a sua pele voltará a ficar mais rica em vitaminas e camomila, hidratada e suavizada pelas oscilantes e exclusivas massagens, possíveis até de fazer durante o banho matinal.


Depois lembra-se do relógio e vê que já está atrasado, como sempre!

quarta-feira, abril 1

este blogue tem detector de mentiras

Partilhar Há muitas formas de fazer humor. Um dos aspectos que mais valorizo em alguém é ver nele um apurado sentido de humor, basta para isso considerar que na maior parte das vezes eu não tenho nenhum. E a capacidade e coragem que alguns têm em se tornarem ridículos, só para fazer rir os outros, eu não tenho mesmo! Naquele momento, não achei graça alguma. Era uma simples partida que para mim foi inesperada e sem sentido. Só mais tarde reflecti e então percebi que afinal era uma brincadeira inocente, uma partida de primeiro de Abril. Hoje é o dia consagrado às mentirinhas, que se correrem como se espera, no fim todos acabam na galhofa, rindo dos próprios problemas, o que até ajuda a torná-los menores. Fantástico, daqui até o fim do dia, para além de ter de conviver com esta enervante dor de costas, passarei a desconfiar de tudo e de todos, do que me contarem, do que me proporem. Só os inocentes acreditam à segunda na mesma história, mas também é certo que há histórias fantásticas que são verdadeiras. Quem não sabe rir não sabe viver!