Era fim de tarde e eu chegava apressado a casa. Na mão transportava um saco da Tubitek com os mais recentes álbuns comprados com as minhas parcas economias de várias semanadas. Entrava ligeirinho, subia as escadas, isto é, saltava os degraus dois a dois, atirava a pasta da escola para o sofá, sentava-me de pernas cruzadas na alcatifa, retirava o vinil da capa e colocava-o a girar na aparelhagem. Auscultadores nas orelhas, estero ON, dolby ON, loudness ON, TPC's OFF, bass e treble no máximo, volume q.b. Aí, acordes de piano, sons agudos de guitarras beliscadas com mestria, percussão de bateria e vozes, esganiçadas e roucas vozes que se soltavam das frequências sonoras que entravam directas nos meus canais auditivos. Suave de inicio a batida vai aumentando de intensidade pelo labirinto, os decibéis tilintam nos tímpanos, o martelo, a bigorna e o estribo, amplificados em choques ritmados, impulsos eléctricos que vibram até os neurónios. Naquela altura eu ouvia discos. Naquela altura ouvia música, verdadeira música que as discotecas tocavam, as rádios passavam e que as festas de garagem imortalizaram: A música dos anos oitenta. E haviam também os discos que herdei do meu pai, das ondas musicais das décadas anteriores. Ouvia música deitado no chão do quarto, de olhos fechados e completamente perdido no espaço e no tempo, até sentir um toque familiar no ombro avisando-me que o jantar estava na mesa.
Porque é que me lembrei disto hoje? Por causa desta notícia! Ufff… Pronto, já podes sair para comentar!