segunda-feira, novembro 9

berlim

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Livre! Já és livre. És livre porque te reinventaste na coragem. És livre porque estás viva. E como estás viva esta noite… Mais viva que a própria vida! Louca de alegria, numa loucura incontida que voa cada dia mais alto em busca do infinito, que o infinito não te basta. Fica-te bem um pouco dessa loucura, dessa liberdade. És livre porque com as tuas próprias mãos, com o teu sangue, derrubaste as paredes da vergonha. Quebraste amarras farpadas dessa cortina de ferro. Destruíste em cacos de memória o cimento da infâmia que te separou os filhos. Que te tirou o futuro, tão grande lá do outro lado, onde se voa e não se rasteja. Os homens são ocos, tão ocos que já não sabem ser loucos, quando ser louco é só ser humano.




Há muito que esse muro merecia cair. Ao fim de vinte e oito anos de vergonha, o Muro de Berlim caiu por terra, pelo seu próprio peso. Com ele caiu toda uma ideologia política, um sistema autoritário, um capitalismo de estado. Com a Glasnost e a Perestroika na URSS, durante o governo de Mikhail Gorbachev, deu-se o início ao processo de abertura política e de novas liberdades dadas à população e que contribuíu definitivamente para a ruína de todo o sistema soviético. Há vinte anos o muro desapareceu quase tão depressa como surgiu. Irmãos que foram separados à força reuniram-se em família, como um povo, uma cidade, um país, um velho continente. Mas a vergonha continua espalhada em muitos outros locais. Muros invisíveis que não foram construídos à nossa volta, mas dentro de nós. Muralhas difíceis de derrubar que quando pensamos já demolidas, os alicerces ainda restam profundos, espetados nas nossas vidas. Muros mais altos e intransponíveis que foram erguidos desde 1989. Enquanto restar alguma pedra, conservaremos o ódio, a indiferênça, o medo, o egoísmo, o racismo. Outros muros, outras lamentações. Há ainda tantos muros por derrubar.

9 comentários:

liamaral disse...

E que orgulho nos dá essa queda! Que nunca deixemos de derrubar muros, sejam eles de que natureza forem!
:) Beijinho

liamaral disse...

E que orgulho nos dá essa queda! Que nunca deixemos de derrubar muros, sejam eles de que natureza forem!
:) Beijinho

Kok disse...

Felizmente que acabou, e já faz tempo.
Deveria ter acabado há mais tempo...
Nunca deveria ter existido! Mas isso se calhar já seria pedir muito.

Surpresa das surpresas: outros muros foram erguidos ainda não há muito tempo.
Bem, se calhar nem é assim uma grande surpresa.

Abraço, pah!

§-refiro aos muros de betão, porque os outros são mais difíceis de derrubar!

Gi disse...

Que cada vez haja menos muors e mais pontes entre todos.

Anónimo disse...

Embora concorde com tudo o que escreves, não consigo celebrar enquanto se continuarema aerguer outros muros, Paulo.

Teté disse...

Claro que existem muitos outros muros, mas mais difíceis de derrubar que esse, de tijolo e cimento. Os outros são invísiveis, construídos com preconceitos e egoísmos, daí levarem o seu tempo até serem ultrapassados... ;)

Beijocas!

Inês Brito disse...

Foi uma prova de fogo, um adiamento da felicidade. Não digo que tenha sido algo bom, no entanto, ensinou muito ao mundo.

Bj,
(i)

Borboleta disse...

Sem dúvida que derrubar muros é bom, mas tal como dizes ainda à muros por derrubar e honestamente tenho pena dos que se vão erguendo!

Preferia que existissem mais pontes ou outros caminhos em vez de tamanhos obstáculos!

Bjs

Marta disse...

sim, é verdade, ainda há muitos muros por derrubar.mas ter essa consciência é derrubar um muro alto e poderoso: o da indiferença.
obrigada pelo post.

obrigada pela visita e - muito - pelas palavras.

abraço :)