quarta-feira, dezembro 21

desconto de Natal

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O seu nome é Manuel das Neves. Tem 52 anos, robusta pança, cultiva com vaidade uma grande barba branca e passou o ano todo desempregado. Graças à época de Natal, ele sempre consegue um biscate. Algum gerente de alguma loja de algum hiper mercado repara nele certas semelhanças com um velho popular, o Pai Natal! Sim, porque todo o barbudo, nesta época, é um Pai Natal em potência. Mesmo que não tenha jeito para lidar com crianças serve para pegar nelas e posar para as fotografias. Mesmo que para algumas crianças seja um tipo mal cheiroso e mal-encarado. Mesmo que não se importe de ser mal pago. E o Pai Natal nunca ganhou horas extraordinárias. Manuel não era muito diferente. A diferença era que ele não tinha filhos e talvez por isso não tinha pachorra para birras de criancinhas. E o que piorava o estado de nervos deste em especial era o seu problema de flatulência. Imaginem o pobre coitado! A ventosidade intestinal que discretamente largava em alguns intervalos que tinha durante o seu nobre ofício, o de enganar as crianças. Só poderia dar no que deu.

Lá pelas tantas, chegou ao seu colo o terror de todo o Pai Natal, uma criança precoce.

- Ho, ho, ho! Qual é teu nome, pequenote?

- Eu! Chamo-me Pedro. E o seu?

- Ho, ho! Eu sou o Pai Natal!

- Tem a certeza? Respondeu a criança, com aquele olhar de desconfiado.

- Ho, ho! Sim senhor! Eu venho lá do Polo Sul!

- Não seria do Polo Norte!?

- Ho! Que miúdo esperto! Sim, é verdade! Apanhaste-me.

- Não senhor! O senhor é que me apanhou. Durante cinco anos eu cresci a acreditar numa mentira. Muito obrigado!

- O que foi, rapazinho? Então e tu achas que o Pai Natal não existe?

- É claro que não existe!

- Mas por que não meu adorável rapaz (fedelho, quereria antes ter dito)!?

- Porque eu o vi ali numa loja a dar brinquedos, com uma fantasia muito mais bonita e sem cheirar a cocó.

Isso feriu-lhe o orgulho. Nesse ponto, já se percebia que não era o Pai Natal mas sim Manuel das Neves, 52 anos, desempregado e barrigudo, que estava a servir de modelo fotográfico durante as festividades natalícias:

- Escuta aqui ó puto. Eu não estou aqui para ouvir criancinhas mimadas nem para aturar fedelhos mal educados...!

- Eu sou mais bem educado que o senhor...

E foi então que lhe subiram os azeites e desceram os gases. Com os dislates do rapazinho o velhote descuida-se, solta uma bufa, e o inegável pivete ganhou presença, empestou o ambiente e tomou conta dos acontecimentos que se seguiram.

- O Pai Natal deu um pum, O Pai Natal deu um pum... Cantarolava o catraio, alto e bom som.

- O Pai Natal não existe!!! E se deres mais um pio, eu... Berrou-lhe Manuel das Neves chocalhando a criança pelo braço.

Nesse momento, uma menina, a próxima na fila, ouviu que o Pai Natal não existia da boca do próprio e imediatamente abre a boca o quanto pode e começa a chorar.

Finalmente, os seguranças correm na direcção da confusão. Bastou um soco, mas não foi de um segurança. Foi um pai indignado que, deixando o pobre do homem petrificado e agarrado ao queixo, leva o garoto pelo braço borrado de medo.

- Pai, o Pai Natal não existe.

E sentindo um cheiro nauseabundo, o pai, que era um gozador, responde:

- Pois não existe, filho, mas tu já me deste o teu presente...

... E esgotaram-se meus eufemismos para flatulência.

4 comentários:

Kok disse...

Temos que aceitar: cada um manifesta-se como pode!
E tanto pode sair um arroto como...
Aliás até se pode dizer que a exalação de gazes ganha o nome conforme a porta de saída!

Akele abraço pah!

Teté disse...

Coitado do homem, com essa característica pessoal, deve ser difícil que alguém lhe dê emprego. Nem como Pai Natal... :)

Anónimo disse...

Pelo menos durane a época natalícia podia tomar Aero Om

Rafeiro Perfumado disse...

Estou a ver que os cinco anos são uma idade lixada para acreditar no Pai Natal... e que cheiro é este?!?