sexta-feira, dezembro 16

entre uma lágrima de saudade e um suspirar de alívio

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E pronto. Em oito segundos, 1/5 do Bairro do Aleixo desapareceu da vista de toda a gente. Os escombros da torre nº 5 jazem por terra assim como os sonhos e expectativas da população residente. Muita gente que ainda lá vive não sabe o que é morar noutro local. Ali nasceu, sobreviveu e deu sustento. Os terrenos são valiosos, ferreamente cobiçados, e que a Câmara vai oferecer aos especuladores imobiliários. O problema de bairros como o do Aleixo não é a pobreza, o tráfico de drogas e a toxicodependência. O real problema é a dependência que esta gente tem do Estado! Dependente do rendimento mínimo, da habitação social e do subsídio de desemprego. O problema do Aleixo é de base. É acima de tudo um problema de pessoas. De famílias que foram levadas para ali em circunstâncias sobejamente conhecidas e que ali ficaram desamparadas. Uma concentração excessiva de famílias, de pessoas de baixos rendimentos e com fracas possibilidades de conseguirem mudar a sua condição. O problema de bairros como o do Aleixo sempre foi sério mas nunca resolvido em benefício de quem lá vive. Tal como no Bairro S. João de Deus, o Aleixo teve o mesmo desfecho. Decidiu-se demolir, não para reconstruir mas para separar, desalojar e desagregar uma comunidade inteira. Tirar aos pobres para dar aos ricos...

Depoimentos dos residentes à Lusa:

"Eu não saio daqui"

"Praticamente nasci aqui, o meu irmão nasceu aqui, as minhas irmãs, como vai ser agora? Vamos para outros bairros onde não conhecemos ninguém? Falam da droga, disto e daquilo mas não prejudicam ninguém. Ninguém tem problema com a droga. Eles vendem a quem têm de vender e não prejudicam ninguém", desabafa.

'Maria', que não gosta que lhe tirem fotografias, tem 75 anos e mora na torre 3 há 37. A mesma torre que serve de base ao Centro de Dia onde costuma estar. A mesma onde teve e educou os seus filhos. A torre de um bairro de onde "saíram doutores, engenheiros e até jogadores de futebol".

'Maria' está revoltada e diz alto e bom som: "Eu não saio daqui". Da Ribeira foi para o Aleixo, sempre com o rio como pano de fundo, um cenário que não quer perder "para os ricos" ou para "os prédios de luxo" que diz estarem previstos.

Contudo, nem todos pensam da mesma forma. "Já devia ter acontecido há mais tempo" diz uma das moradoras em surdina, de fugida, com receio de dar uma opinião diferente à dominante.

"Não há condições de viver aqui"

Foi o Francisco Silva, de 67 anos, há 36 no Aleixo, quem teve coragem de se mostrar e afirmar que sim, a demolição "é justa".

"Porque actualmente ninguém tem ligado nada aqui ao bairro [que] cada vez se vem degradando mais. Os elevadores não funcionam e há pessoas de uma certa idade que não podem descer nem subir [escadas]", conta.

Não se importa de sair. "Vivi cá muitos anos mas da maneira como o bairro está, tão degradado, não há condições de viver aqui", remata.

Ler mais: http://aeiou.expresso.pt/bairro-do-aleixo-moradores-divididos-entre-a-saudade-e-a-alegria-de-sair

6 comentários:

Anónimo disse...

Tenho mixed feellings em relação ao Aleixo. Se por um lado compreendo o drama de quem lá vive, por outro parecia-me notória a necessidade de demolição, porque aquilo estava muito degradado.
Está bem, eu sei que a demolição não se ficou a dever a isso, mas sim ao facto de a CMP esperar embolsar um bom dinheiro com o condomínio de luxo que lá vai ser construído. Mas isso é outra história que creio irá acabar mal, porque com a crise do imobiliário não sei se o projecto avançará, por falta de compradores.

Nanny disse...

Sou contra a construção de bairros sociais, por princípio, e a favor da sua demolição pelas mesmas razões... a solução nunca foi, e penso que nunca será, a criação de guetos...mas a realidade é que a mentalidade de subsídio-dependência vai demorar a ser erradicada. A vida não é fácil para ninguém, mas toda a minha vida conheci gente que prefere viver de forma miserável a ter de "se virar"...

Nanny disse...

p.s. - onde arranjaste aquele vídeo maravilhoso sobre Portugal, ali do lado direito?

paulofski disse...

Tenho o mesmo sentimento Carlos.

paulofski disse...

Trouxe-o daqui Nanny.

Não me canso de o ver. Faz arrepiar a pele.

Teté disse...

Nada de novo, portanto! Desde quando é que governantes e autarcas se preocupam realmente com as populações que os elegeram? :P

Bom fim de semana!